sábado, 8 de março de 2008

O que significa ser mulher no século XXI?

Por Vero Castanheira

Aproveito a data simbólica para levantar uma questão:
O que significa, hoje, comemorar o dia da mulher?

Vocês já pararam um segundinho, sequer, para pensar sobre isso? Sem, claro, envolver toda essa parafernália consumista ou mesmo um romantismo em torno desta questão?

Pois é, não sei se temos muito o que comemorar. Observo, converso, percebo atitutes machistas em muitas mulheres, as vezes, penso que a mentalidade feminina não se desenvolveu tanto quanto as mudanças estruturais na economia e na política alcançadas, é claro, pelas lutas e movimentos sociais em prol de melhores condições de trabalho e etc.

Antes mesmo que meus amigos e amigas marxistas me joguem pedras, deixo claro que as mulheres que estou me referindo neste texto são, em boa parte, de classe média e,quanto pior, àquelas que absorvem a informação por ela mesma, ou seja, não refletem sobre o que vivem.

Muitas mulheres tem uma idéia completamente confusa em relação a libertar-se dos padrões morais e sociais, principalmente quando associam ao sexo. Como se o ato de "trepar" significasse libertação, pra quem? Trepar é maravilhoso, mas quando o prazer é mútuo. Embora nossas vidas sejam reguladas por padrões e uma moral estúpida do século XXI - ainda que a mídia e outros aparatos ideológicos tentem nos convencer que não - é incrível como ainda é um tabu falar de prazer.

Quantas de vocês conhecem o próprio corpo? Quantas se masturbam e sentem um prazer enorme sozinhas, sem o precioso falo? Embora estas questões já tenham sido levantadas com muito mais força e embasadas em teorias e práticas pelo movimento feminista, de meados do século XX, não significa dizer que estas idéias tenham sido apropriadas e discutidas no tempo presente. Até mesmo por não se falar disso ou ter a vergonha de falar sobre isso, é um indício de uma sociedade machista e repressora. Só que com uma diferença: a responsabilidade de uma mudança efetiva na mentalidade é das mulheres. Claro que a superação dos valores machistas depende de homens e mulheres, mas cabe a mulher contemporânea rever comportamentos, principalmente através da reflexão.

Vejam só, quando digito no google imagens a palavra "mulher" os significados visuais que aparecem são:centenas de fotografias todas vinculadas a sexualidade masculina, ou seja, mulheres nuas, oferecendo seus corpos à degustação, ou então, imagens idílicas como se a mulher fosse somente candura, serenidade, maternidade e etc. Pior ainda são os cartazes criados para comemorar o dia da mulher, abaixo envio um cartaz de extremo mau gosto cuja imagem nos mostra uma mulher que esconde o rosto como se estivesse envergonhada da comemoração pelo seu dia, afinal, é importante valorizar determinados aspectos convenientes ao se pensar sobre a mulher, conforme vocês poderão ler na definição do que é ser mulher.

Outra visão social (inserida na lógica maniqueísta) é da "mulher mãe", como se a mulher somente pudesse se realizar como tal no momento da maternidade. Gente, isso é medieval! E quanto pior, uma visão religiosa do papel da mulher na sociedade. Tantas leituras já foram feitas sobre esta idéia, tanto na literatura quanto nas imagens ao longo do tempo. Isso nos aponta um caminho: como as imagens revelam e propagam valores morais e culturais e o quanto permanecem no imaginário social. As imagens do google não estão longe disso. Quem é que controla o que deve ser veiculado nesta mídia?

Naturalmente eu não sou livre o suficiente para me colocar no papel de libertadora das mulheres do século XXI, mas isso não quer dizer que não posso levantar esta questão. Aliás, uma coisa que me incomoda muito é essa lógica do tempo presente que necessita dar uma resposta imediata a todas as questões, é claro, que faz parte da mecânica acelerada de nossos tempos onde a velocidade é sinônimo desenvolvimento.

Quando levanto a questão O que é ser mulher no século XXI? Certamente não procuro resposta numa prova de múltipla escolha, muito menos resposta alguma referenciada em práticas e teorias. Questiono porque a reflexão é a minha práxis e de que adianta refletir no silêncio?

Quem não conhece a história que reconhece o dia internacional da mulher, pesquise. Não tem nada a ver com essa publicidade inventada em torno das virtudes morais da mulher. Mas, é claro, não é nenhum pouco interessante resgatar a luta das mulheres por melhores condições de trabalho em direção ao reconhecimento dos direitos sociais.

Uma curiosidade: a cor rosa como símbolo da feminilidade é algo inventado posteriormente. A primeira cor utilizada pelas mulheres como bandeira da luta foi o vermelho. Só que o vermelho lembra o comunismo, não é? O Rosa é mais suave, remete a candura, ao sexo frágil.

Essas são algumas questões levantadas, ainda há outras de igual importância, mas deixo para vocês pensarem e se quiserem debater comigo. Mesmo com a desculpa de quem não tem tempo para ler, pensar e escrever, envio esta discussão que considero importante. Não perco a esperança de discutir sobre o que vivemos. Até porque não creio que vivemos num mundo de Alice onde todas as questões estão resolvidas ou como na frase estúpida e passiva de que isso é assim mesmo e nada vai mudar.

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