sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Quando a arte transforma a vida...

Assisti o filme "Orquestra de Meninos", não pude me conter de emoção e escrevo, ainda, com olhos marejados só de pensar na luta e na garra do maestro Mozart ao transformar uma realidade tão assustadora em beleza e sonho. Tive a honra de conhece-los na década de 1990, por volta de 95, um pouco antes de estourar o escândalo sórdido que envolveu o maestro. Lembro de ter me emocionado ao ouvir o solo de uma menina cantando a Bachiana Brasileira n°5 de Villa Lobos num palco do CCBB, neste momento eles estavam lançando o seu primeiro cd no Rio. É como se através da música que eles fazem também pudéssemos sentir talvez um milésimo da dor que um dia estas crianças sofreram, mas que transcenderam através da arte e do direito de sonhar.

A brilhante iniciativa do diretor Paulo Thiago em filmar a história de luta do maestro Mozart , em São Caetano, Pernambuco, é um ato político, pois ao faze-lo o filme tornou-se um documento público da injustiça cometida contra ele. Apesar de ser um filme de ficção, baseado em fatos reais, acaba por assumir a forma de um documento, de um registro de inestimável valor político. Porque toda luta travada pelo maestro para conseguir levar adiante o seu sonho de uma orquestra de crianças no agreste é uma belíssima demonstração de amor à vida.

O filme-documento é um marco para pensarmos também que a realidade transformada pelo maestro Mozart está além da história e dos intelectuais que teorizam sobre a miséria da vida, está além daqueles que se dizem revolucionários de esquerda e que não movem uma pena para mudar a situação do seu vizinho, está além dos que esperam por salvadores e além, muito além de qualquer político e naturalmente alguma iniciativa política em direção a uma igualdade de direitos.


Para quem quiser assitir o trailler do filme, confira:
http://br.youtube.com/watch?v=qlVu-KdFDO8&NR=1

Salve o maestro Mozart e os Meninos de São Caetano!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ponto Cine, ponto de ebulição

No último domingo, na revista do jornal O Globo foi publicada uma matéria muito interessante e sensível sobre a sala de cinema Ponto Cine em Guadalupe. Gostaria de reproduzi-la por inteiro, mas estou sem tempo para digitar. Então escolhi alguns trechos da mesma e reproduzo, abaixo, quem tiver a revista vale a pena lê-la. Escrita pelo jornalista Marcelo Balbio, a matéria valoriza a iniciativa de Adailton Medeiros, o idealizador da sala, e seus espectadores. Ao conversar com a dona Rosa Maria da Luz Silva, de 59 anos, frequentadora assídua da sala desde 2006 quando foi inaugurada, ela conta um pouco sobre sua experiência: Na época, pouca gente sabia que o cinema tinha sido aberto. Eu fui uma das primeiras. Adoro isso aqui. Já fiz até poesia para o Ponto Cine:
Ponto de admiração, de quem o visita, pela primeira vez
Ponto de ebulição, de diálogos, debates, questões, interrogações
Ponto de encontro, de amigos e tribos, Zona Norte, Oeste e Sul
Ponto de confluência, de diferentes estilos, cinema nosso - novo e antigo
Ponto de passagem, de viagem, na hora mágica do filme
Ponto Cine, nunca ponto, final, sempre ponto, de partida.

Para atrair a atenção dos espectadores para o cinema, uma van percorre praças, escolas, bailes funk e outras áreas da vizinhança, exibindo traillers dos filmes. Também faz campanhas em rádios comunitárias e mantém projetos como o Pró-Social Cinema, patrocinado pela Petrobrás, que exibe filmes gratuitos para estudantes, e o Oficine-se com cursos que ensinam a montar um núcleo de cinema. Outro fator importante é que o ingresso custa R$ 6,00, mas o ideal seria cobrar menos ainda - explica Adailton - Para muitas pessoas, esse é um valor alto. Por isso temos um cadastro de pessoas que têm interesse, mas não podem pagar, e encaixamos essas pessoas nas sessões que têm lugares vagos.

Na semana passada houve a exibição do filme "Orquestra dos Meninos" no Ponto Cine e contou com a presença do diretor Paulo Thiago e do ator Murilo Rosa para um debate com o público no final da sessão.

Adailton conta duas histórias que aconteceram no Ponto Cine: Uma delas é a de uma senhora que nunca tinha entrado num cinema e, quando informada que pessoas da terceira idade pagam meia-entrada, perguntou se só teria direito a ver metade do filme. Outra que também emocionou a equipe do cinema foi uma mulher que tirou as sandálias e, em sinal de respeito, entrou descalça na sala de exibição, também pela primeira vez.

Salve, Adailton! Palmas por sua excelente iniciativa.
Revista O Globo - Ano 5 - Nº 225 - 16 de novembro de 2008 - Cultura

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

À Adelina e aos que ficam

No final de uma tarde ensolarada, ao olhar para o céu, procurei encontrar o arrebol expressão que minha avó Adelina falava ao referir-se à hora do dia em que o fogo rouba a cena do sol, no exato momento do soar dos sinos e do cântico da Ave-Maria. Um momento quase sagrado onde deveríamos apenas contemplar serenamente a natureza ou como os religiosos chamam estar com Deus em silêncio, longe do barulho das cidades e dos homens, para que possamos nos ouvir e ouvir o outro.Falo de silêncio porque é a única forma que encontro para amenizar a dor da perda, falo, é claro, por meio das palavras que podem ser lidas no silêncio. Durante muitos anos minha avó esperava ansiosamente pelo seu cartão de natal escrito por mim, ela sempre adorou as palavras, principalmente aquelas bonitas, que faziam as lágrimas caírem pelo seu rosto. Ela também escrevia belos cartões de aniversário, depois que crescemos, os nossos presentes vinham em envelopes, tenho todos eles guardados. Outra coisa que ela adorava era procurar os sentidos das palavras, os sinônimos e os antônimos nas palavras cruzadas. De certa forma, herdei isso dela, mas de um jeito diferente, pois a minha maior expressão é por meio das palavras, ao pensar sobre elas, colocá-las no papel, dizê-las ao outro, mostro a minha dor. Assim como expresso o meu amor por todos os que ficam porque é sempre em vida que falamos de amor.
À minha querida avó Adelina que partiu na noite de de outubro de 2008.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

The woman's labour

Um relato de um mulher trabalhadora, Mary Collier, então uma lavadeira de Petersfield, Hampshire, em 1739:

[...] e qundo chegamos em casa,
Ai de nós! vemos que nosso trabalho mal começou;
Tantas coisas exigem a nossa atenção,
Tivéssemos dez mãos, nós as usaríamos todas.
Depois de pôr as crianças na cama, com o maior carinho
Preparamos tudo para a volta dos homens ao lar:
Eles jantam e vão para a cama sem demora,
E descansam bem até o dia seguinte;
Enquanto nós, ai! só podemos ter um pouco de sono
Porque os filhos teimosos choram e gritam
[...]
Em todo trabalho (nós) temos nossa devida parte;
E desde o tempo em que a colheita se inicia
Até o trigo ser cortado e armazenado,
Nossa labuta é todos os dias tão extrema
Que quase nunca há tempo para sonhar.


Retirado do capítulo "Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo industrial"do livro Costumes em Comum de E. P. Thompson.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Pequena Crônica Cotidiana

Ao entrar no ônibus, mais ou menos umas 11h30, como quem não quer nada, perguntei quanto estava o jogo do Brasil e Argentina para a trocadora que ouvia pelo rádio atentamente os últimos informes: 2x0 Argentina, é mole? Apesar de não entender picas de futebol, alimentei uma rasa conversa com ela e com o motorista durante o caminho. A melhor parte, sem sombra de dúvida, foram os comentários do motorista que dizia que os jogadores não jogam por amor à pátria, mas somente por dinheiro, portanto essa seria a justificativa da perda do jogo. É preciso ter amor a pátria, ele repetia com fervor, eu ouvia apenas o grito dele, que precisava apenas que alguém lhe perguntasse. Talvez quisesse dividir a perda "nacional", precisava de uma boa desculpa para não se sentir um perdedor como os jogadores brasileiros. E como cúmplice, quando o ônibus parou no meu ponto, ouvi a sua voz: colega, não fica chateada por isso não! Não vale a pena.


Veronica do Rio
(pseudônimo plagiado)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Um trem para as estrelas

Cazuza e Gilberto Gil

São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, alémCom os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

quarta-feira, 16 de julho de 2008

C'est toujours à l'imparfait de l'objectif
que tu conjugues le verbe photographier

Jacques Prévert

domingo, 25 de maio de 2008

HIATO:

Um documentário de Vladimir Seixas*
Por Vero Castanheira

Domingo, nove horas da manhã, Cinelândia. Aos poucos chegavam grupos de homens, mulheres e crianças de todas as idades, aos poucos o cinema Odeon foi sendo ocupado por olhares atentos, curiosos e, de certa forma, felizes. Famílias inteiras, crianças alegres disputavam os lugares do balcão do cinema como se fosse uma brincadeira, é verdade que é bem mais divertido sentar lá em cima. Senhoras e senhores acomodados nas confortáveis poltronas vermelhas da sala, muitos dos homens e das mulheres entravam numa sala de cinema pela primeira vez.

Às dez horas todos estavam sentados e ansiosos para a estréia do filme, porém ainda faltava a chegada do último ônibus que trazia mais um grupo de pessoas sem teto. A expectativa do público era grande, não apenas pelo fato de estarem ali, mas essencialmente pela oportunidade de serem vistos na tela.

Ser visto, fazer-se ver, ser aceito, ser parte da sociedade, estamos falando de gente e não de coisa descartável. É sobre esta questão que o documentário Hiato:, de Vladimir Seixas nos convida a pensar, ou melhor, nos convida a discutir com seriedade o problema secular da exclusão social no Brasil.

O filme reúne imagens de uma visita feita por um grupo de manifestantes do Movimento dos Sem Terra ao Shopping Rio Sul, em Botafogo, no mês de agosto de 2000. Além das imagens registradas pelos jornalistas, há entrevistas com alguns participantes da ocupação sete anos depois e com alguns intelectuais.

Numa estratégia bem articulada, os trabalhadores resolvem criar um fato político ao decidirem conhecer um shopping da zona sul carioca. É claro que existe a curiosidade, mas neste caso, a proposta era ser visto e ter o direito de circular pelo espaço público. E não importa se é um templo de consumo ou uma praça, falamos, a princípio, de uma ação política organizada em direção à conquista pela igualdade de direitos.

Desde que chegaram ao shopping, o grupo foi abordado pela polícia cuja tentativa de impedimento à entrada não foi possível, porque o grupo estava acompanhado pela imprensa. Desde já podemos perceber a articulação do grupo ao avisar a imprensa um dia antes da ocupação, da mesma forma percebemos a necessidade do grupo em fazer-se ver pelo grande público. De longe foi a melhor crítica à imprensa, na verdade de tirar o chapéu, porque neste caso, não foi a imprensa quem “lucrou” com as imagens, e sim o movimento que ao ser documentado ganha projeção nacional, torna-se um registro inquestionável da exclusão social, que nem mesmo, com todos os seus truques, a imprensa pode reverter o discurso.

O que deveria ser uma passagem pelo shopping, torna-se uma desagradável experiência, mais uma vez sofrida, de exclusão social. Os manifestantes perceberam o quanto são descartados pela sociedade e que a presença do grupo neste espaço provoca incômodo e medo na classe média. Uma das cenas notáveis do documentário mostra a náusea sentida pela classe média ao assistir o grupo na praça de alimentação onde todos estavam sentados nas cadeiras e sobre a mesa preparavam sanduíches de mortadela.

É assustadora a violência sofrida por estas pessoas, esmagadas socialmente por uma classe aristocrática cujos reflexos são sentidos também nas classes média e baixa. Infelizmente o capitalismo não é somente um sistema político, mas em essência, ideológico que vai consumindo as pessoas de todas as classes sociais, incutindo falsos e imorais valores de felicidade. Um bom exemplo disto pode ser conferido no filme, com a reação preconceituosa dos vendedores com os manifestantes que entravam nas lojas para perguntar os preços e pediam para experimentar as roupas. A expressão repulsiva dos vendedores com os trabalhadores é um bom parâmetro para medirmos o alto grau de desumanidade proporcionado por uma sociedade de aparências. E o pior é que os vendedores também são trabalhadores e, em grande parte, são das classes média e baixa, mas assumem o discurso e a prática das elites políticas.

Nesse sentido, os manifestantes do sem terra deram um show de conscientização política, porque além de serem vistos num espaço elitista mostraram também a existência cruel da miséria social. O que até então era conhecido apenas pelas imagens transmitidas pela televisão, mostra-se a olhos nus para um público amedrontado e alienado. Historicamente os burgueses só sentiram medo dos trabalhadores quando os mesmos se mostraram organizados politicamente e descrentes numa possível aliança.

Como afirma Elisabeth da Silva, uma das participantes da ocupação, dizem que o Brasil é livre, que existe liberdade, pra quem?

* Vladimir Seixas é aluno da Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
Contato: hiato.doc@gmail.com

terça-feira, 29 de abril de 2008

Burnt Norton

I

O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória
Ao longo do corredor que não seguimos
Em direcção à porta que nunca abrimos
Para o roseiral. As minhas palavras ecoam
Assim, no teu espirito.
Mas para quê
Perturbar a poeira numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o jardim. Vamos segui-los?
Depressa, disse a ave, procura-os, procura-os,
Na volta do caminho. Através do primeiro portão,
No nosso primeiro mundo, seguiremos
O chamariz do tordo? No nosso primeiro mundo.
Ali estavam eles, dignos, invisiveis,
Movendo-se sem pressão, sobre as folhas mortas,
No calor do outono, através do ar vibrante,
E a ave chamou, em resposta à
Música não ouvida dissimulada nos arbustos,
E o olhar oculto cruzou o espaço, pois as rosas
Tinham o ar de flores que são olhadas.
Ali estavam como nossos convidados, recebidos e recebendo.
Assim nos movemos com eles, em cerimonioso cortejo,
Ao longo da alameda deserta, no círculo de buxo,
Para espreitar o lago vazio.
Lago seco, cimento seco, contornos castanhos,
E o lago encheu-se com água feita de luz do sol,
E os lótus elevaram-se, devagar, devagar,
A superfície cintilava no coração da luz,
E eles estavam atrás de nós, reflectidos no lago.
Depois uma nuvem passou, e o lago ficou vazio.
Vai, disse a ave, pois as folhas estavam cheias de crianças,
Escondendo-se excitadamente.. contendo o riso.
Vai, vai, vai, disse a ave: o género humano
Não pode suportar muita realidade.
O tempo passado e o tempo futuro
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
Primeira parte da poesia Burnt Norton de T. S. Eliot
Quatro Quartetos, tradução de Maria Amélia neto, 3ª ed., Edições Ática, 1983

quarta-feira, 16 de abril de 2008

SALVE A LITERATURA DE CORDEL!


Ao entrar no site da Estante Virtual, deparei-me com a imagem acima do Manifesto Comunista em Cordel. Minha curiosidade foi maior, encomendei o livro e já o devorei. Foi escrito por Antônio Queiroz de França, um dos diretores da SAPOEMA - Sociedade dos Poetas e Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará, além desta publicação, Antônio escreveu também: Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos, A História da Heroína Olga Benário, Luiz Carlos Prestes - O Cavaleiro da Esperança, As Aventuras do guerrilheiro Che Guevara, dentre outros.


segunda-feira, 24 de março de 2008

Minha passagem pelo cinema


Como todos sabem, apesar dos meus 34 anos, já fiz muita coisa na vida. Embora tenha feito tudo pela metade (mas com profundidade), já passei por Letras, Arquitetura, Artes Visuais, Design Gráfico, Fotografia e etc, enfim um currículo de vida e tanto, mas que ainda tem muito o que acrescentar...

Depois de tanto circular pelo meio acadêmico (juro, não aguento mais!); tudo bem, vocês vão dizer que ainda tem o mestrado e o doutorado. Tá, penso nisso depois, mas, enfim, me encontrei na História e, é claro, como professora.

Portanto, resolvi ilustrar os meus 34 anos, com um documento iconográfico raro: a minha passagem pelo cinema, principalmente ao lado do homem mais bonito e galante da história.

sábado, 8 de março de 2008

O que significa ser mulher no século XXI?

Por Vero Castanheira

Aproveito a data simbólica para levantar uma questão:
O que significa, hoje, comemorar o dia da mulher?

Vocês já pararam um segundinho, sequer, para pensar sobre isso? Sem, claro, envolver toda essa parafernália consumista ou mesmo um romantismo em torno desta questão?

Pois é, não sei se temos muito o que comemorar. Observo, converso, percebo atitutes machistas em muitas mulheres, as vezes, penso que a mentalidade feminina não se desenvolveu tanto quanto as mudanças estruturais na economia e na política alcançadas, é claro, pelas lutas e movimentos sociais em prol de melhores condições de trabalho e etc.

Antes mesmo que meus amigos e amigas marxistas me joguem pedras, deixo claro que as mulheres que estou me referindo neste texto são, em boa parte, de classe média e,quanto pior, àquelas que absorvem a informação por ela mesma, ou seja, não refletem sobre o que vivem.

Muitas mulheres tem uma idéia completamente confusa em relação a libertar-se dos padrões morais e sociais, principalmente quando associam ao sexo. Como se o ato de "trepar" significasse libertação, pra quem? Trepar é maravilhoso, mas quando o prazer é mútuo. Embora nossas vidas sejam reguladas por padrões e uma moral estúpida do século XXI - ainda que a mídia e outros aparatos ideológicos tentem nos convencer que não - é incrível como ainda é um tabu falar de prazer.

Quantas de vocês conhecem o próprio corpo? Quantas se masturbam e sentem um prazer enorme sozinhas, sem o precioso falo? Embora estas questões já tenham sido levantadas com muito mais força e embasadas em teorias e práticas pelo movimento feminista, de meados do século XX, não significa dizer que estas idéias tenham sido apropriadas e discutidas no tempo presente. Até mesmo por não se falar disso ou ter a vergonha de falar sobre isso, é um indício de uma sociedade machista e repressora. Só que com uma diferença: a responsabilidade de uma mudança efetiva na mentalidade é das mulheres. Claro que a superação dos valores machistas depende de homens e mulheres, mas cabe a mulher contemporânea rever comportamentos, principalmente através da reflexão.

Vejam só, quando digito no google imagens a palavra "mulher" os significados visuais que aparecem são:centenas de fotografias todas vinculadas a sexualidade masculina, ou seja, mulheres nuas, oferecendo seus corpos à degustação, ou então, imagens idílicas como se a mulher fosse somente candura, serenidade, maternidade e etc. Pior ainda são os cartazes criados para comemorar o dia da mulher, abaixo envio um cartaz de extremo mau gosto cuja imagem nos mostra uma mulher que esconde o rosto como se estivesse envergonhada da comemoração pelo seu dia, afinal, é importante valorizar determinados aspectos convenientes ao se pensar sobre a mulher, conforme vocês poderão ler na definição do que é ser mulher.

Outra visão social (inserida na lógica maniqueísta) é da "mulher mãe", como se a mulher somente pudesse se realizar como tal no momento da maternidade. Gente, isso é medieval! E quanto pior, uma visão religiosa do papel da mulher na sociedade. Tantas leituras já foram feitas sobre esta idéia, tanto na literatura quanto nas imagens ao longo do tempo. Isso nos aponta um caminho: como as imagens revelam e propagam valores morais e culturais e o quanto permanecem no imaginário social. As imagens do google não estão longe disso. Quem é que controla o que deve ser veiculado nesta mídia?

Naturalmente eu não sou livre o suficiente para me colocar no papel de libertadora das mulheres do século XXI, mas isso não quer dizer que não posso levantar esta questão. Aliás, uma coisa que me incomoda muito é essa lógica do tempo presente que necessita dar uma resposta imediata a todas as questões, é claro, que faz parte da mecânica acelerada de nossos tempos onde a velocidade é sinônimo desenvolvimento.

Quando levanto a questão O que é ser mulher no século XXI? Certamente não procuro resposta numa prova de múltipla escolha, muito menos resposta alguma referenciada em práticas e teorias. Questiono porque a reflexão é a minha práxis e de que adianta refletir no silêncio?

Quem não conhece a história que reconhece o dia internacional da mulher, pesquise. Não tem nada a ver com essa publicidade inventada em torno das virtudes morais da mulher. Mas, é claro, não é nenhum pouco interessante resgatar a luta das mulheres por melhores condições de trabalho em direção ao reconhecimento dos direitos sociais.

Uma curiosidade: a cor rosa como símbolo da feminilidade é algo inventado posteriormente. A primeira cor utilizada pelas mulheres como bandeira da luta foi o vermelho. Só que o vermelho lembra o comunismo, não é? O Rosa é mais suave, remete a candura, ao sexo frágil.

Essas são algumas questões levantadas, ainda há outras de igual importância, mas deixo para vocês pensarem e se quiserem debater comigo. Mesmo com a desculpa de quem não tem tempo para ler, pensar e escrever, envio esta discussão que considero importante. Não perco a esperança de discutir sobre o que vivemos. Até porque não creio que vivemos num mundo de Alice onde todas as questões estão resolvidas ou como na frase estúpida e passiva de que isso é assim mesmo e nada vai mudar.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Je ne regrette rien

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
C'est payé, balayé, oublié,
je me fout du passé.

Avec mes souvenirs,
j'ai allumé le feu,
Mes chagrins mes plaisirs,
je n'ai plus besoin d'eux.

Balayés mes amours,
avec leurs trémolos,
Balayés pour toujours
je repars à zéro...

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bienégal.

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
Car ma vie, car mes joies,
Pour aujourd'hui
Ça commence avec toi

Chanson: Michel Vaucaire e Charles Dumont

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A Culpa é do Fidel


O Fidel é o fã n°1 do filme!

COMO O SENTIDO DA SOLIDARIEDADE É DESCOBERTO?

A busca da resposta para essa pergunta atravessa o filme sob o olhar solitário de Anna, filha de militantes políticos na década de 1970 em Paris. O longa "A culpa é do Fidel", dirigido por Julie Gavras, parece biográfico apesar da cineasta não admitir tal relação, sua estréia como diretora de um longa metragem é brilhante, sensível e impecável nos diálogos e na fotografia. Assim como na escolha dos atores,principalmente da menina cuja expressividade conquista o público desde a primeira cena.

Anna tinha uma vida confortável de classe média parisiense até o momento em que seus pais optam pelo engajamento na luta pelo socialismo. O quadro político de uma década efervescente no mundo é visto pelo olhar de uma menina de nove anos cujo comportamento individualista vai se transformando na medida em que é obrigada a entender a mudança de posicionamento diante da vida radicalizada pelos pais. Cai por terra o véu das contradições entre teoria e prática, explorado nos diálogos através de um humor refinado que traduz a percepção da menina sobre os valores e atitudes de todos a sua volta.

O amadurecimento da personagem é construído a partir da sua vivência entre os dois mundos opostos: o individual e o solidário. Saí da sala de cinema com a sensação prazeirosa de ter assistido uma obra de arte, sentimento cada vez mais raro no tempo presente. Mas sem perder a esperança, continuo acreditando nas possibilidades criativas e sensíveis de homens e principalmente mulheres do nosso tempo. Uma salva de palmas para Julie Gavras, filha de um grande homem.

Assistam!

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PRECISO VENDER COM URGÊNCIA MINHA TV
Motivo: Big Brother Brasil

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Por um ano poético

A poesia da vida se faz no dia-a-dia
Não uma vida poética, que isso não existe.
A poesia da vida não se escreve
Se encontra nos olhos nos olhos
No gesto solidário
Na batalha diária que renova a esperança

A poesia da vida é simbólica
Porque não real
Se bem que antes do signo
Houve o gesto

Parece estar no passado
Numa fotografia desbotada
Restaurada pela lembrança
Como um presente de natal

Mas também está no presente
Aqui, agora, neste momento de encontro imaterial
Por isso clamo pela poesia
Porque sem ela somos bem pouco

Clamo pela vida
Que é o coletivo do ser humano
E para ser poética não pode ser individual, nunca
É preciso sonhar junto
Por um mundo melhor
Poético? quem sabe ...
Mas essencialmente humano

Por isso minha vida
Que não é exemplo neste mundo efêmero
de coisas supérfluas, hipócritas e desiguais
caminha em linha torta
como os poetas subversivos

A poesia da vida
Encontra-se na eterna construção da casa
O abrigo de todos os homens, mulheres e crianças
e sinônimo de liberdade, igualdade e justiça.

Vero Castanheira