segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O banquete dos banqueiros

por Veronica Machado

Não posso perder a oportunidade de relatar a todos o problema que tive com o Banco Real. Cansada de pagar taxas por qualquer serviço prestado - se bobear, o fato de você pisar no banco já é um motivo para uma cobrança indevida - resolvi encerrar a minha conta neste banco e não abrir em nenhum outro.

Então encerrei a conta no dia 28 de setembro de 2007 e para a desagradável surpresa recebi um comunicado, no início de outubro, informando um débito na minha conta. Foi quando descobri que a gerente não encerrou a conta (não apenas a minha como a de todos os clientes nas últimas semanas de setembro), portanto foi cobrado uma taxa sobre o valor da dívida anterior ao encerramento. Inconformada fui até a agência e os novos gerentes contratados disseram que a moça havia sido demitida e por revolta com o banco resolveu "prejudicar" os clientes.

Inacreditável, né?! Mas isso é apenas o começo. Até onde eu saiba, qualquer pessoa que queira encerrar sua conta deve pagar todas as dívidas. No entanto os gerentes não assumiram o erro com os clientes, obrigando -os a encerrar novamente e para que isso ocorresse os clientes deveriam pagar as taxas "devidamente" cobradas pelo banco.

Provavelmente os gerentes destes bancos devem estar acostumados a lidar com pessoas que ignoram seus direitos e que não se importam em pagar para livrarem-se de chateações, certamente quem age desta forma ajuda os banqueiros a lucrarem cada vez mais e a cobrarem de forma indevida juros e taxas de seus clientes. Não se enganem cada centavo doado para um banco representa milhões para estes porcos exploradores.
Apesar da faca e o queijo na mão para abrir um processo contra o banco Real preferi fazer valer os meus direitos enquanto cidadã, exigindo o cancelamento deste débito e o encerramento definitivo da conta. Visto que não havia nenhuma negociação através do banco, mesmo com a ameaça de um processo, procurei o serviço de atendimento ao cliente (SAC), enviando um e-mail explicando o ocorrido. Nada, nenhuma resposta, nenhum contato. Então procurei a ouvidoria do banco com mesmo procedimento. Após uma semana, deve ter caído a ficha de que sairia mais barato para eles encerrar a conta de uma trabalhadora do que pagar a conta de um processo.

Ainda assim tive que ouvir a arrogância do gerente ao atribuir o erro a mim e desta forma desculpar o banco da cobrança. Ou seja, eles estavam fazendo um favor a uma cliente e não se desculpando de um erro cometido. Fiz questão de deixar claro para este sujeito que sua atitude era uma obrigação e não um favor, o banco errou duas vezes a primeira por não assumir o erro com a cliente e segundo por tentar, em vão, persuadi-la.

Desde a resolução do problema, a ouvidoria do banco liga pelo menos uma vez por semana para minha casa para perguntar se está tudo bem. Engraçado, né?! Hoje tiveram a cara de pau de pedir que eu atribuísse uma nota ao serviço de ouvidoria do banco. Deixei bem claro que a ouvidoria é um serviço do banco e não descolado dele, a nota é o resultado do serviço geral oferecido pelo banco. E ainda assim, como um robô que não aceita uma resposta que não esteja programada, a atendente me perguntou se eu indicaria o banco Real para alguém. Não é possível! Será que as pessoas estão tão burras e tão mecanizadas, tudo bem, até entendo que faz parte do trabalho dela, mas deve existir um mínimo de coerência. Só me restou dar uma boa gargalhada no telefone e dizer: não, jamais indicaria este banco para alguém, inclusive faço questão de fazer propagandas negativas.

Outro episódio inacreditável ocorreu com uma amiga, ao devolver ao banco Itaú um empréstimo solicitado com adiantamento da data de vencimento, ela pagou uma multa! Ou seja, pagou por antecipar o vencimento da dívida, é claro, o banco perdeu os juros sobre o valor emprestado. Mas isso é um absurdo! É um afrontamento ao cidadão. A cada atitude passiva diante da ousadia inescrupulosa destes banqueiros assim como cada centavo descontado da conta de cada um, é o somatório dos ingredientes que fazem o banquete destes mercenários.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Por onde anda a poesia?

por Veronica Castanheira Machado

A internet é, sem dúvida, um meio de comunicação, de encontros e buscas maravilhosas, mas o livro é indispensável, não o troco por uma leitura na telinha do monitor, até porque faz um mal desgraçado aos olhos, na verdade lemos pontos de luz ao invés de letras impressas no papel, não sentimos o perfume do tempo guardado nos livros.

Recebo muitos e-mails diários com textos de autoria desconhecida ou duvidosa, parece não haver nenhum interesse em saber quem escreve e porque escreve, o que me leva a pensar que toda produção intelectual na contemporaneidade parece não valer absolutamente nada, aliás, o que está em questão é a ausência de sentidos no pensar criticamente esta sociedade e estes homens e mulheres.

O curioso é que as pessoas recebem e repassam estes textos sem o menor critério, ou seja, não páram para pensar no que está sendo lido e o porquê desta escrita. O ato de repassar é mecânico, basta apertar um botão e enviar para o seu grupo, mas pensar criticamente não é automático. As grandes empresas de comunicação sabem disso perfeitamente e estimulam seus leitores à estas práticas alienantes para que o leitor não desenvolva o senso crítico, afinal, não é uma beleza manipular o senso comum? Milhões de cifras mensais sem nenhum esforço intelectual!

A internet deveria ser o ponto de encontro do conhecimento, já que nos permite navegar por espaços que antes não tínhamos acesso, já que nos permite diversas leituras de uma mesma notícia, já que nos permite olhar sob diversos prismas a sociedade. No entanto, a quantidade de informações veiculadas nesta mídia não transforma-se em conhecimento automaticamente, por que? Não será porque pensar dá trabalho? Exige tempo, disciplina, interesse,curiosidade, seriedade, entre outros. E quanto pior, ao invés de servir como um meio de fomento ao pensamento crítico, as pessoas repetem como papagaios o que lêem assim como copiam e colam textos de pesquisadores e assumem a autoria sem o menor problema, sem o menor caráter.

E aí eu pergunto, que sociedade é essa que estamos inseridos? Que mundo automatizado é este? Será que me relaciono com homens ou com máquinas? Por onde anda a poesia?

Ontem, estava sentada sozinha numa mesa do bar da faculdade, uma senhora desconhecida resolveu sentar-se ao meu lado e conversamos sobre coisas da vida e produções culturais dos homens na história, tanto ela quanto eu ficamos encantadas uma com a outra, porque afinal podíamos conversar sobre poesia, cinema, política, enfim sobre relações humanas. Infelizmente no tempo presente encontrar seres pensantes é como descobrir um tesouro arqueológico. Os homens foram dados de presente às máquinas como no conto abaixo de Cortázar.

Preâmbulo às instruções para dar corda no relógio
Julio Cortázar

Do livro Histórias de cronópios de famas

Pense nisto: quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar. Não dão somente um relógio, muitas felicidades e esperamos que dure porque é de boa marca, suíço com âncora de rubis; não dão de presente somente esse miúdo quebra-pedras que você atará ao pulso e levará a passear. Dão a você – eles não sabem, o terrível é que não sabem – dão a você novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso. Dão a necessidade de dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue sendo um relógio; dão a obsessão de olhar a hora certa nas vitrines das joalherias, na notícia no rádio, no serviço telefônico. Dão o medo de perdê-lo. De que seja roubado, de que possa cair no chão e quebrar. Dão sua marca e a certeza de que é uma marca melhor do que as outras, dão o costume de comparar seu relógio aos outros relógios. Não dão um relógio, o presente é você, é a você que oferecem para o aniversário do relógio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O presente de Gautherot



por Vero Castanheira

O acervo digital da coleção de fotografias do Instituto Moreira Sales é um presente aos nossos olhos. Vale a pena conhecer o trabalho do fotógrafo francês Marcel Gautherot. Seu olhar sensível ao diferente nos permite viajar no tempo e na diversidade cultural brasileira. Tendo como foco as relações entre os homens, o trabalho e os ritos, Gautherot nos apresenta um imenso painel sócio-cultural dos diversos brasis.
O fotógrafo chegou no Brasil no final da década de 1930, apaixonou-se e ficou. Trabalhou para JK, acompanhou a construção de Brasília registrando em imagens a arquitetura modernista e a vida dos trabalhadores. Viajou por vários estados brasileiros e nos deixou um presente a ser explorado.
Um aspecto interessante do trabalho de Gautherot é dramatização das imagens, como se fossem cenas teatrais. Valoriza os trabalhadores e sua cultura através dos enquadramentos e pontos de vista das cenas registradas, utiliza a técnica fotográfica magistralmente para captar as expressões e gestos dos homens, mulheres e crianças. Aproxima-se da realidade social brasileira, recorta aspectos cotidianos de cada região como um antropólogo, no sentido da busca identitária do homem, representada pela cultura local.


Gautherot, Marcel.Alumiação. Manaus. AMAZONAS / Brasil.
Rito folclórico do Amazonas, celebrado no dia 2 de novembro, destinado à memória dos mortos. Por influência portuguesa, milhares de pessoas se dirigem aos cemitérios, onde acendem muitas velas para homenagear os finados e, ao chegar da noite, assistem a um espetáculo de luzes.

Instituto Moreira Sales
http://acervos.ims.uol.com.br/php/level.php?lang=pt&component=39&item=16

domingo, 26 de agosto de 2007

O que a sociedade brasileira realmente quer mudar?

por Vero Castanheira

A discussão que envolve a corrupção policial e atuação do BOPE não é recente, nem mesmo uma abordagem original para um filme. Há oito anos foi lançado "Notícias de uma guerra particular", de João Moreira Sales, excelente documentário onde revela através de imagens e depoimentos a guerra do tráfico com a polícia. No entanto, é preciso ter o cuidado para não confundir imagem e imaginário, ficção e realidade. No caso do livro "Elite da Tropa" escrito por três homens, sendo estes dois ex-policiais do BOPE e um sociólogo, a história pode ser perfeitamente confundida com a memória, justamente onde está o equívoco, pois a memória carrega consigo o que é importante lembrar e o que deve ser esquecido. Quando a linguagem escrita transforma-se em imagem dá o toque de realidade necessário para que o espectador faça a síntese e acredite nela. Até porque é mais fácil acreditar no que se vê do que pensar sobre o que está sendo revelado.

Já o filme "Tropa de Elite" apresenta o olhar crítico de dois homens que atuaram no BOPE e que ainda encontram-se na polícia, logo devem ter o cuidado com o que dizem, até porque estão arriscando as próprias vidas com denúncias falsas ou verdadeiras. A gente sempre tem a pretensão de querer buscar verdade em tudo e nunca consegue. Não há como saber a veracidade da informação sem investigação, não há como confiar na imagem da película nem mesmo na escrita que não se define como ficção ou não.

De qualquer modo, o filme levanta mais questões do que respostas; apresenta relações importantes a serem pensadas e discutidas na sociedade, mas é claro que a mídia não terá o mínimo interesse em discuti-las, até porque não existe democracia midiática, mas uma ditadura da informação. Cabe a nós, levarmos estas para as salas de aula, para os blogs e grupos de discussão. Por exemplo, qual é realmente a atuação do BOPE? Qual é a opinião dos moradores das favelas sobre o BOPE? Qual é a participação política da sociedade civil diante da violência na cidade do RJ? E ainda, o consumo de drogas como alimento ao tráfico e o armamento negociado entre a polícia corrupta e os traficantes.

São muitas questões a serem debatidas, a idéia de um fórum é mais do que bem vinda, é necessário. Não podemos ficar a margem das discussões, simplesmente porque não vivenciamos de perto estas trágicas relações de poder e violência. Quando eu militei num partido político de esquerda, participei de reuniões da campanha contra o caveirão e o BOPE, neste período eu pensava ingenuamente que era uma violência sem tamanho a atuação do BOPE nas favelas, o modo como chegavam e entravam desreitando os moradores. No entanto não havia nenhum morador nestas reuniões contra o caveirão; meses depois, quando eu já não estava mais nem militando nem no partido, li uma matéria no jornal O Dia que me surpreendeu, dizia que os moradores das favelas aprovavam a atuação do BOPE, que a presença destes policiais nos morros os deixam seguros em relação a pressão sofrida pelo tráfico.

Tudo bem, são dois discursos, o primeiro do partido político distanciado da realidade, mas com um bom referencial teórico sociológico persuasivo e o segundo a mídia com a intenção de manipular discursos favoráreis e criar realidades.Cabe, ainda, outra pergunta: O que a sociedade brasileira realmente quer mudar?
A hipocrisia, melhor denominação para a sociedade brasileira, talvez seja o principal argumento da imobilidade frente à realidade, ou seja, as classes média e alta vêem os fatos como míopes sem óculos, contribuem de certa forma para a permanência da violência. Porque na medida em que silenciam a desigualdade social, banalizam a violência e assinam embaixo do que a rede globo afirma diariamente como uma realidade imensurável, estão compactuando com discursos e práticas do sistema.

A corrupção parece uma prática comum para esta mesma sociedade, está no dia-a-dia do brasileiro quando o mesmo é o primeiro a corromper a polícia, subornando-na para esconder seus delitos (o flagrante do baseado, estacionar em local proibido, avançar o sinal, subornar o funcionário público para a fila andar depressa e etc).

A discussão deve abraçar toda a conjuntura social ao invés de focar apenas num aspecto da realidade brasileira, afinal, este é o papel teatral da imprensa brasileira: o lançamento diário de notícias nos jornais e nas demais mídias onde apresentam uma visão parcial e preconceituosa de um fato, e quanto pior, sem direito à resposta.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Sobre Fotografia por Barthes

"Um dia, há muito tempo, dei com uma fotografia do último irmão de Napoleão, Jerônimo (1852). Eu me disse então, com um espanto que jamais pude reduzir: "Vejo os olhos que viram o Imperador." Vez ou outra, eu falava desse espanto, mas como ninguém parecia compartilhá-lo, nem mesmo compreendê-lo (a vida é, assim, feita a golpes de pequenas solidões), eu o esqueci. Meu interesse pela fotografia adquiriu uma postura mais cultural. Decretei que gostava da Foto contra o cinema, do qual, todavia, eu não chegava a separá-la.
Essa questão se fazia insistente. Em relação à Fotografia, eu era tomado de um desejo “ontológico”: eu queria saber a qualquer preço o que ela era “em si”, por que traço essencial ela se distinguia da comunidade das imagens. Um desejo como esse queria dizer que, no fundo, fora das evidências provenientes da técnica e do uso e a despeito de sua formidável expansão contemporânea, eu não estava certo de que a Fotografia existisse, de que ela dispusesse de um “gênio” próprio.”

Roland Barthes, A Câmara Clara.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Algumas hipóteses para a falência do "Cansei"

Como Historiadores e Cientistas Sociais que somos, temos que discutir, com todos os rigores do método científico, as causas do fracasso das manifestações do "Fora Lula" ocorridas no último sábado, dia 04/08 (aqui no Rio, a manifestação reuniu menos de 300 gatos pingados na Av. Atlântica, sendo que destes quase 100 eram integrantes das Juventudes dos PSDB e do DEM). Apresento abaixo algumas hipóteses:

1- Houve um erro de estratégia dos organizadores ao marcarem passeatas, ao invés de carreatas. Essa gente não está acostumada a andar a pé;

2- Um evento como este exige uma grande produção por parte dos militantes. Como os salões de beleza dos Jardins, em São Paulo, e de Ipanema/Leblon, no Rio, ficaram lotados, muita gente não conseguiu chegar a tempo para participar da manifestação;

3- Devido à péssima qualidade do Filet Mignon produzido no Brasil desde que aquele operário ignorante e sem dedo assumiu a presidência, os cachorrinhos de diversas participantes do evento passaram mal e suas donas ficaram presas em casa cuidando dos pobres bichinhos;

4- Os militantes do Movimento "Cansei" estão tão cansados que não tiveram pernas para ir às passeatas.

Estamos abertos à novas hipóteses.

OUTRAS HIPÓTESES
"Acrescento também:
1) A questão de que uma passeata tem o incoviniente do contato com o povão, será que eles não temeriam perder o Rolex ou misturar o seu perfume pólo com o povão...
2) E se no meio da passeata ficassem com sede, onde poderia beber a água mineral importada?
3) Uma outra questão é o fato da previsão do tempo ter dito que haveria chuva... Imagina aquelas belas senhoras com seus cabelos escovados?

De certa forma aquela passeata jamais poderia dar certo!!!!!
Beijos e beijos!!!!!!
Luiz Barbosa

"Contribuindo para a análise sociológica e política do evento, cabe acrescentar: 1) O número pequeno de manifestantes justifica-se pela falta, no mercado, de filtros solares importados da França, o que poderia prejudicar a "massa" social na sua proteção das correções anatômicas faciais, culotais, barrigais e bundais (traduzindo: sem a proteção das plásticas feitas pelo universo feminino e masculino tucano);
2) Na última hora não chegou ao Rio de Janeiro, o malote da DASLU que traria bolsinhas de plástico com a marca Louis Vitton para serem distribuidas no transcorrer da manifestação."
Lincoln

"Contribuindo ainda mais para explicar a análise do fracasso da passeata, cabe acrescentar: - a ausência, na área da passeata, de um restaurante de um chef famoso, onde todos poderiam comentar a ousadia do ato experimentando um menu-degustação."
Alvaro

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Minha Adesão ao Movimento "Cansei"

Cansei da classe "mérdia" e das tradicionais elites brasileiras que não escondem o seu preconceito de classe e que até agora não engoliram que alguém vindo do andar de baixo e que não freqüentou os bancos da USP ou da PUC tenha chegado à presidência da república;
Cansei da plutocracia paulista que, encastelada nos Jardins, se aproveita da dor dos parentes das vítimas do acidente com o avião da TAM para colocar lenha em uma campanha golpista contra um governo legitimamente eleito;
Cansei da indignação classe média do Arnaldo Jabor - o sex symbol da terceira idade - que não perde a oportunidade, em meio à sua pretensa "ira santa", de escrever reiteradamente sobre como "o governo anterior era bem melhor que o atual”;
Cansei do neo-udenismo da Heloísa Helena, do esquerdismo infantil da Luciana Genro, do bom-mocismo tijucano do Chico Alencar, do discurso "politicamente correto" do Gabeira, das mágoas e ressentimentos pessoais do Cristóvam Buarque;
Cansei de ver o FHC posando de paladino da ética e da moralidade pública e dando sugestões de como o governo Lula deve agir para resolver "os graves problemas que afligem o país";
Cansei das repetitivas crônicas dominicais do João Ubaldo Ribeiro - que poderiam simplesmente se chamar "Variações em torno de um mesmo tema" -, visto que o nobre acadêmico freqüenta sempre o mesmo boteco do Leblon. Talvez, se ele mudasse um pouco e passasse a freqüentar também alguns bares dos subúrbios e da Baixada Fluminense, ele conseguiria ampliar suas perspectivas (e seu cabedal etílico);
Cansei dos artigos da Míriam Leitão apresentando a solução para todos os problemas econômicos do país e afirmando sempre que aquilo que acontece de bom na economia brasileira é resultado das políticas implementadas pelo governo FHC e da conjuntura internacional favorável e que tudo que acontece de ruim é resultado da "incompetência e das falhas de gestão" do governo Lula;
Cansei das centenas de matérias publicada em "O Globo", no "Estadão" e na "Veja" denunciando o "gigantismo e a ineficiência do Estado brasileiro", bem como o "inchamento do setor público" perpetrado pelo governo Lula e propagandeando as vantagens do "Estado Mínimo" e a "maior eficiência do setor privado";
Porém, confesso, também cansei da postura conciliadora e da falta de colhões do nosso presidente para bater de frente com esses setores golpistas e acelerar as reformas necessárias ao desenvolvimento do país. Com todas as críticas que tenho (e são inúmeras) ao governo venezuelano, ficaria muito satisfeito se o "Companheiro" Lula tivesse, pelo menos, um terço da testosterona do "Comandante" Chávez!

domingo, 22 de julho de 2007

Um Mergulho na Idade Média

(Roland Combatendo os Sarracenos - Tapeçaria do Século XII)

"Cantiga sua, partindo-se"
(João Roiz de Castelo-Branco)
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

In: "Cancioneiro Geral", de Garcia de Resende (1516)

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A Fórmula - Dino Buzzati

De que tem medo, imbecil? Das pessoas que o estão olhando? Da posteridade, por estranho acaso? Bastaria uma coisa infíma: conseguir ser você mesmo, com todas as fraquezas inerentes, mas autêntico, indiscutível. A sinceridade absoluta seria em si mesmo um tal documento! Quem poderia suscitar objeções? Este é o homem, um dos muitos, se quiserem, mas um. Os outros seriam obrigados a levá-lo em consideração, estupefatos, pela eternidade.

(In: Naquele Exato Momento. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2004)

terça-feira, 17 de julho de 2007

O Paleolhar da Televisão

A imagem, acima, é uma montagem com uma cena do filme Videodrome de David Cronenberg.

"(...) Televisão é o olho contra olho, olhar contra olhar. Endoscopia vídeo-eletrônica para dentro das salas e das almas cotidianas, dose diária de um "midiacamento" insuportável e insubstituível, mistura de elixir e droga, que provoca reações variadas no paciente, de náusea ao vício... O olhar da televisão é endoscópio, cateter que penetra nos divertículos mentais e emocionais do dia-a-dia urbano: é o soma huxleyano dos urbanitas. Quem assiste televisão é assistido por ela."

Décio Pignatari, O Paleolhar da Televisão. O Olhar, Org. Adauto Novaes. Ed. Cia das Letras.

domingo, 15 de julho de 2007

Uma rápida citação de Emmanuel Lévinas

A lucidez - abertura do espírito ao verdadeiro - não consiste em entrever a possibilidade permanente da guerra?

Os Comedores de Batata

Nada a declarar. É simplesmente Van Gogh.

Eu me inconformo















Por Vero Castanheira

Certa vez uma amiga me contou sobre uma conversa com seu chefe. Ela, gerente de uma loja de roupas grã-fina, empolgada ao vender três peças do mesmo modelo apenas diferenciadas pelas cores, cada uma pelo valor de R$ 350,00, virou-se para o seu chefe e comentou que achava a peça muita barata; seu chefe num ato comovido e impressionado com a postura da empregada atrevida disse que ela estava por fora da realidade nacional, que cada peça representava o valor de um salário mínimo portanto era cara. Sabe que a minha amiga ficou passada e chegou até a pensar que o seu chefe era “humano” e possuía um certo comprometimento social.
Ora, vamos lá, a única pessoa que pode achar algo caro ou barato é o seu chefe, na verdade ele deu uma lição de moral na sua empregada para mostrá-la que a sua função não é questionar nada, é apenas vender o produto.

A grande maioria das pessoas que ficam passeando pelos shoppings centers do RJ não compram efetivamente nada, no entanto ao se programarem para visitar o templo do consumo vestem-se como se fossem para os bailes, as vezes em suas bolsas não tem nem a grana do ônibus, mas não importa o que vale mesmo é a imagem.

Desfilam pelos corredores com seus filhos, maridos, esposas, se pudessem levariam também os cachorros. Param e olham as vitrines como se estivesse de frente à telinha da televisão, mudam de canal e continuam circulando, entram nas lojas, experimentam as roupas se olham no espelho e procuram afetos das vendedoras e dos maridos,perguntam o preço e vão embora. Caroço!

É fácil vender, fui vendedora por poucas semanas, sempre vendi bem, porque sei contar mentirinhas. Aliás, vender ilusões é tarefa da publicidade, e é disso que quero falar.

A publicidade procura mostrar um produto fidedigno com uma suposta realidade, as imagens precisam ter o máximo de tecnologia para criar uma ilusão de ótica no espectador, fazê-lo crer que o mesmo está comprando antídotos que irão suprir a carência de afetos ou ainda apaziguar a ira, a revolta e a reivindicação. O estilo utilizado é inspirado na estética burguesa, romanceada pela ideologia dominante e manifesta nas novelas, minisséries, filmes enlatados, shoppings centers e nos subprodutos da propaganda.

Você precisa realmente comprar um carro para ter um companheiro (a)? Você precisa comprar a margarina para ter uma família? Você precisa comprar aquela calcinha para a sua bunda ficar mais bonita? O que você precisa? Está no plano espiritual ou material?

Quando me refiro ao espiritual não se trata de nenhuma religião, mas da essência, da conjugação do verbos ser , pensar, questionar, reivindicar, lutar. E principalmente, não se conformar, aliás acabo de inventar outro verbo para língua portuguesa Inconformar, veja no presente:
eu me inconformo
tu te inconformas
ele se inconforma
nós nos inconformamos
eles se inconformam.
Retirei o vós porque é um pronome morto.

Agora vamos ver no futuro:eu me inconformarei, tu te inconformarás, ele se inconformará, nós nos inconformaremos, eles se inconformarão.

Não basta conjugar na teoria, temos que utilizá-lo no dia-a-dia seja no freio consumista seja nas relações sociais que estabelecemos.

INTESTINO PUBLICITÁRIO


A agência que vai tirar o seu produto da merda.












La Merda d'artista, obra do artista italiano Piero Manzoni, de 1961, representa uma crítica irônica sobre o estado da arte e o papel do artista.

Consumo Consciente

por Vero Castanheira

Nem sempre a gente consegue colocar em prática o que pensamos, muitas vezes corrompemos o nosso ideal por um prato de comida ou para alimentar outros desejos ou outras pessoas, mas uma coisa é certa, devemos sempre questionar os nossos atos porque o que vivemos são o seu reflexo.

Muitas pessoas se consideram religiosas outras se consideram de esquerda, porém a prática militante, seja política seja religiosa é contraditória, é preciso estar atento e forte no ideal para não sermos manipulados pelos meios de comunicação de massa e pelo clichê ineficaz e passivo de que tudo é assim mesmo e nada vai mudar.

Vivo meus dias inconformada com o que vejo, esta terrível realidade social maquiada pela propaganda onde a cultura construída junto as mídias reforça cada vez mais a estética do consumo, daquilo que tem prazo de validade e é descartável. A história já não interessa, as relações humanas muito menos, o que importa hoje é o que você tem e o que você pode oferecer em ganhos materiais.

Será que as pessoas não percebem que esta cultura vem se afirmando não apenas no plano material como essencialmente nas relações humanas, sejam de trabalho, sejam amorosas, sejam familiares?

Bom, é sobre isso que quero conversar; sobre como a cultura consumista tem avançado nas demais relações estabelecidas entre homens e mulheres, como o ser humano está passivo diante do que é dado pela mídia como valor inquestionável. Em tempos de banalização da violência, naturalização do consumo, torna-se banal dizer eu te amo e virar as costas num momento de aperto. Os valores humanos perdem a sua coerência quando são levados pela propaganda para vender produtos cujas marcas impõem ideais de vida, a solidariedade, por exemplo, é o valor mais utilizado pela mídia e pelas empresas quando precisam justificar a exploração do trabalho e do meio ambiente. Para ser mais objetiva, vamos lembrar da responsabilidade social, o que é isso? Uma forma dos empresários (entenda-se aqui dono de empresas) posarem para a mídia como os capitalistas corretos, como se houvesse essa possibilidade, mas é claro que essa construção é tão bem definida pelos setores de marketing das empresas que a maioria das pessoas caem no conto do vigário.

Pensem bem, o que vocês entendem por responsabilidade social?

Não vou falar aqui o que eu penso sobre esta questão deixo que vocês comprovem nos discursos dos marketeiros o que eles realmente pensam sobre isso, portanto selecionei algumas citações de um site para a devida compreensão do que realmente interessa aos empresários e acabar com este discurso inventado por setores estratégicos de que existe ética e responsabilidade no mundo empresarial. Confira abaixo:

"As empresas vivem um momento onde está cada vez mais dispendioso aumentar a participação de suas marcas no mercado. Os clientes, cada vez mais exigentes, tornam-se difíceis de ser fidelizados e todo diferencial possível precisa ser explorado a fim de ajudar a marca a manter (ou aumentar) sua participação em mercados cada dia mais concorridos. O Marketing Social representa uma oportunidade importante para as marcas passarem a um patamar superior, é uma forma efetiva de diferenciar produtos e melhorar a imagem corporativa. Por este motivo, é crescente o número de empresas que fazem promoções ou associam sua imagem a causas sociais, como forma de estimular vendas ou agregar valor a sua imagem institucional. Do ponto de vista do consumidor, adquirir produtos de uma empresa ou marca que esteja associada a uma causa social relevante é uma ótima oportunidade de tornar real o desejo de participar, pertencer, compartilhar e sentir a auto-realização, característicos do topo da Hierarquia das Necessidades de Maslow. A fim de viabilizar esta estratégia de atuação, as empresas firmam acordos com entidades sem fins de lucro, que executam as ações propostas e, em seguida, convidam os consumidores a colaborarem com a causa, simplesmente consumindo produtos daquela marca. A idéia, muito boa do ponto de vista estratégico, precisa ser planejada com antecedência, para que o processo funcione bem". Os desafios do gerenciamento de ações de Marketing Social, artigo não assinado.

Já o artigo abaixo é mais sincero:

"Sem qualquer concessão a ilusões de um “novo mercado bonzinho”, falamos de business e dos benefícios que o modelo de gestão da Responsabilidade Social pode propiciar às empresas. Tornando-as ainda mais ricas e perenes sem o ônus do preconceito em relação ao "visado lucro", na medida em que este enriquecimento extrapola sua divisão entre proprietários e acionistas e também incorpora outros agentes envolvidos no process colaboradores, clientes, consumidores, fornecedores, governos, comunidades e tantos outros". Tanya Rothgiesser,O que é socialmente responsável?

Em nenhum momento os marketeiros, ou os capangas dos empresários, levantam a questão de melhores salários aos seus empregados e melhores condições de trabalho, no entanto utilizam definições vagas sobre os conceitos de ética e todas as demais questões intrínsecas as relações de trabalho. Não é isso que está em jogo, o que querem, como podemos perceber acima, é a fidelização do cliente à marca e para isso apelam para as causas sociais persuadindo os consumidores a uma falsa consciência e atitude moral. Deturpam o sentido de consumo consciente, ou seja, os fins justificam os meios para elevarem as cifras de suas contas bancárias.

Quando você consome o produto de uma dessas empresas você está validando o discurso dos capitalistas humanitários, ou seja, você é presa fácil como também está contribuindo para a permanência deste sistema. Se você acha isso tudo uma grande bobagem tudo bem, continue consumindo e enriquecendo o bolso destes caras, viva como Polyana e simplesmente aceite a vida com ela é, ou melhor como um produto da propaganda, mas não reclamem jamais dos altos salários dos deputados, das injustiças sociais, do seu próprio salário, de como o seu chefe estabelece uma relação exploratória com você e com os seus colegas de trabalho. Todas as relações estão permeadas pelos valores culturais que legitimam o sistema político-social que vivemos.

Outro exemplo deste discurso picareta é o da Fundação Bradesco, inclusive ganhou o prêmio empresarial de responsabilidade social este ano, apesar do alto índice lucrativo que o banco mantém com seus clientes cobrados nas taxas, nos juros e nas tarifas bancárias, desconta seus impostos em ações sociais. Interessante perceber que a palavra ética está sempre nos panfletos dos empresários, o texto é tão bem construído que você acaba por acreditar. No site da Fundação Bradesco há o portal do voluntariado que na verdade deveria se chamar o portal do otário! A hipocrisia é tão escancarada, como é possível algum cidadão trabalhar de graça para um banco! Vocês não acreditam? Pois é, são 21 mil brasileiros voluntários.

Confiram o discurso:
"A Fundação Bradesco é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 1956 por Amador Aguiar, para oferecimento de Educação Básica, Profissional e de Jovens e Adultos às comunidades carentes. Hoje são 40 escolas localizadas nos 26 Estados e no Distrito Federal, onde foram atendidos 108.151 estudantes em 2006.
A Fundação Bradesco e o VoluntariadoPor meio de suas unidades escolares, ao longo dos anos, a Fundação Bradesco tem incentivado a realização de ações voluntárias. E a partir de projetos envolvendo a participação de educadores, alunos e pais, beneficia instituições, ONGs e a própria comunidade. O Dia Nacional de Ação Voluntária tornou-se um dos principais exemplos de atuação da Fundação Bradesco e de sua política de valer-se em favor dos serviços de democratização do acesso ao conhecimento, uma opção a mais na missão de transformar comunidades, integrar localidades e difundir cidadania".

O discurso não é sedutor? Que tal se cadastrar como voluntário de um banco?

Abaixo veja o discurso de cidadania vinculado a uma conta bancária, intitulado Inclusão Bancária(sem gozação, é o título desta matéria):

"Somente a partir de 2002 é que milhares de brasileiros passaram a ter acesso às facilidades e benefícios do sistema bancário. Esse salto, que se confunde com cidadania e conquista, é um dos resultados mais visível do Banco Postal, a parceria entre o Bradesco e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Também são resultados práticos dessa combinação de esforços a inserção de centenas de municípios à estrutura financeira do país e o suporte ao desenvolvimento sócio- econômico, possibilitando que os recursos circulem nos próprios municípios, fomentando a poupança local. O Banco Postal já reúne cerca de 5,4 mil unidades - distribuídas por mais de 4800 municípios - e 5,1 milhões de brasileiros bancarizados. Desse total, quase 3,6 milhões têm renda mensal inferior a três salários mínimos".

Não se enganem a respeito do papel da cultura, da comunicação de massa e da propaganda, pois são concepções e produções do homem, principalmente das elites, cujo foco social é a permanência da ordem e progresso do consumo. Logo consumir com consciência é uma prática política necessária como instrumento de oposição a essa cultura dada como realidade imutável.

E como os empresários riem de você, consumidor inconsciente, se lambuzam no próprio gozo, porque é tão fácil manipular desejos, afagar o ego do cliente e construir a imagem do tipo ideal; no entanto, apesar, do consumo desmedido como recompensa de frustrações ou simplesmente a procura de ilusões nem sempre baratas de felicidade como um produto, a solidão e o desamor disputam os maiores índices de suicídio nos infográficos mundiais.

Fontes pesquisadas:
Fundação Bradesco
Revista Responsabilidade Social

Para pintar o retrato de um pássaro (Jacques Prévert)

Primeiro pinte uma gaiola
com a porta aberta.
Depois pinte
algo gracioso
algo simples
algo bonito
algo útil
para o pássaro.
Então encoste a tela a uma árvore
em um jardim
em um bosque
ou em uma floresta.
Esconda-se atrás da árvore
sem falar
sem se mover...
Às vezes o pássaro aparece logo
mas ele pode demorar muitos anos
antes de se decidir.
Não desanime.
Espere.
Espere durante anos, se for necessário.
A rapidez ou a lentidão do pássaro
não influi no bom resultado
do quadro.
Quando o pássaro aparecer
se ele o fizer
observe no mais profundo silêncio
até ele entrar na gaiola
e quando ele assim agir
delicadamente feche a porta com o pincel.
Então,
apague uma a uma todas as grades
tomando cuidado para não tocar na plumagem do pássaro.
Em seguida, pinte o retrato de uma árvore
escolhendo o mais bonito de seus galhos
para o pássaro.
Pinte também a folhagem verde e o frescor do vento
o dourado do sol e a algazarra das criaturas, na relva,
sob o calor do verão.
E então espere até que o pássaro decida cantar.
Se ele não cantar
é um mau sinal,
um sinal de que a pintura está ruim.
Mas se ele cantar é um bom sinal
um sinal de que você pode assinar.
Então, com muita delicadeza, você arranca
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome em um canto do quadro.