domingo, 15 de julho de 2007

Eu me inconformo















Por Vero Castanheira

Certa vez uma amiga me contou sobre uma conversa com seu chefe. Ela, gerente de uma loja de roupas grã-fina, empolgada ao vender três peças do mesmo modelo apenas diferenciadas pelas cores, cada uma pelo valor de R$ 350,00, virou-se para o seu chefe e comentou que achava a peça muita barata; seu chefe num ato comovido e impressionado com a postura da empregada atrevida disse que ela estava por fora da realidade nacional, que cada peça representava o valor de um salário mínimo portanto era cara. Sabe que a minha amiga ficou passada e chegou até a pensar que o seu chefe era “humano” e possuía um certo comprometimento social.
Ora, vamos lá, a única pessoa que pode achar algo caro ou barato é o seu chefe, na verdade ele deu uma lição de moral na sua empregada para mostrá-la que a sua função não é questionar nada, é apenas vender o produto.

A grande maioria das pessoas que ficam passeando pelos shoppings centers do RJ não compram efetivamente nada, no entanto ao se programarem para visitar o templo do consumo vestem-se como se fossem para os bailes, as vezes em suas bolsas não tem nem a grana do ônibus, mas não importa o que vale mesmo é a imagem.

Desfilam pelos corredores com seus filhos, maridos, esposas, se pudessem levariam também os cachorros. Param e olham as vitrines como se estivesse de frente à telinha da televisão, mudam de canal e continuam circulando, entram nas lojas, experimentam as roupas se olham no espelho e procuram afetos das vendedoras e dos maridos,perguntam o preço e vão embora. Caroço!

É fácil vender, fui vendedora por poucas semanas, sempre vendi bem, porque sei contar mentirinhas. Aliás, vender ilusões é tarefa da publicidade, e é disso que quero falar.

A publicidade procura mostrar um produto fidedigno com uma suposta realidade, as imagens precisam ter o máximo de tecnologia para criar uma ilusão de ótica no espectador, fazê-lo crer que o mesmo está comprando antídotos que irão suprir a carência de afetos ou ainda apaziguar a ira, a revolta e a reivindicação. O estilo utilizado é inspirado na estética burguesa, romanceada pela ideologia dominante e manifesta nas novelas, minisséries, filmes enlatados, shoppings centers e nos subprodutos da propaganda.

Você precisa realmente comprar um carro para ter um companheiro (a)? Você precisa comprar a margarina para ter uma família? Você precisa comprar aquela calcinha para a sua bunda ficar mais bonita? O que você precisa? Está no plano espiritual ou material?

Quando me refiro ao espiritual não se trata de nenhuma religião, mas da essência, da conjugação do verbos ser , pensar, questionar, reivindicar, lutar. E principalmente, não se conformar, aliás acabo de inventar outro verbo para língua portuguesa Inconformar, veja no presente:
eu me inconformo
tu te inconformas
ele se inconforma
nós nos inconformamos
eles se inconformam.
Retirei o vós porque é um pronome morto.

Agora vamos ver no futuro:eu me inconformarei, tu te inconformarás, ele se inconformará, nós nos inconformaremos, eles se inconformarão.

Não basta conjugar na teoria, temos que utilizá-lo no dia-a-dia seja no freio consumista seja nas relações sociais que estabelecemos.

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